Caso RDP: partidos e ERC querem explicações sobre alegada "censura".

PS e BE e ERC querem esclarecimentos sobre o eventual "caso de censura" com o fim da crónica do escritor e jornalista Pedro Rosa Mendes na Antena 1 na sequência de críticas feitas ao regime angolano.

O PS exigiu hoje esclarecimentos urgentes às direções de informação e de programação da Antena 1 sobre o fim da crónica do escritor e também jornalista Pedro Rosa Mendes, na sequência de críticas feitas ao regime angolano.

Pedro Rosa Mendes, antigo correspondente da agência "Lusa", acusa o Governo de ter acabado com um programa "Este Tempo" na RDP por causa de uma crónica crítica a Angola.

O jornalista disse hoje ao jornal "Público" que foi informado por telefone que a crónica da próxima quarta-feira seria a última. "Foi-me dito que a próxima seria a última porque a administração da casa não tinha gostado da última crónica sobre a RTP e Angola", disse o jornalista, por telefone, a partir de Paris.

O ex-jornalista da Lusa em Paris acusa a tutela de censura. "A ser verdade, esta atitude é um acto de censura pura e dura", disse Rosa Mendes ao diário.

Na crónica, o jornalista critica a emissão do programa "Prós e Contras", da "RTP1", transmitida dia 16 a partir de Angola e que contou com a participação do ministro Miguel Relvas.

Contactado pelo EXPRESSO, o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas recusou fazer comentários, limitando-se a dizer que "o assunto é da exclusiva responsabilidade editorial da RDP".

PS admite "chamar" Miguel Relvas



O deputado João Portugal, adiantou à agência "Lusa" que o requerimento para solicitar audições dará entrada ainda hoje na mesa da Comissão Parlamentar de Ética, Cidadania e Comunicação.

Após as audições com os responsáveis da Antena 1 sobre o que esteve na origem da decisão de acabar com a crónica deste escritor, no espaço de opinião "Este tempo", João Portugal admitiu que o PS poderá ainda chamar ao Parlamento para dar explicações o ministro Adjunto e dos Parlamentares, Miguel Relvas.

"A Antena 1 é um canal de rádio que faz serviço público de comunicação e, como tal, deve esclarecer o que se passou com total transparência. Queremos saber se houve alguma influência da tutela para que a direção de informação ou de programas tomasse esta posição em relação a uma opinião livre, ou se estas direções, para fazerem algum frete ao Governo, tomaram esta decisão [por si]", justificou João Portugal.

Apelo aos deputados do PSD e CDS



O deputado socialista deixou ainda "um apelo" aos deputados do PSD e do CDS "para que votem favoravelmente o requerimento".

"Nos últimos tempos, no que respeita a um conjunto de diretores de informação que chamámos ao Parlamento, designadamente os da RTP Madeira e Açores, PSD e CDS inviabilizaram sempre os requerimentos do PS. No caso concreto de uma possível censura de uma opinião de um jornalista, esperamos que PSD e CDS votem desta vez favoravelmente", disse.

No caso desta matéria relacionada com o escritor apenas competir à direção de programas da Antena 1, o PS poderá chamar tanto o diretor de informação, João Barreiros, como o de programação, Rui Pego.

"Na Antena 1, alguém responsável deve vir aqui prestar esclarecimentos. Em segunda instância, depois de ouvirmos os diretores de informação e de programação, se entendermos conveniente, chamaremos também a comissão o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares", acrescentou.

BE questiona possível "ato de censura"



O Bloco de Esquerda questionou hoje o ministro dos Assuntos Parlamentares sobre se o fim do programa "Este tempo" foi um "ato de censura" a uma crónica "extraordinariamente crítica".

"Exige-se que esta situação seja esclarecida o mais rapidamente possível, e o que o Bloco de Esquerda faz é precisamente isso, questionamos o ministro dos Assuntos Parlamentares, perguntando se tem conhecimento
do que aconteceu e quais os fundamentos da decisão, porque precisamos de saber se estamos a assistir a um ato de censura em Portugal", afirmou a deputada do BE Catarina Martins.

O Bloco dirigiu uma pergunta ao ministro Miguel Relvas, que tutela o serviço público de rádio e televisão. A deputada bloquista disse aos jornalistas na Assembleia da República que "o jornalista Pedro Rosa Mendes fez declarações dizendo que, quando lhe comunicaram o fim da sua colaboração, associaram o fim dessa colaboração a uma crónica extraordinariamente crítica que fez de um programa que a RTP transmitiu em direto de Luanda".

PSD já criticou "asfixia democrática"


Segundo Catarina Martins, "toda a gente que viu o programa pode ter observado" que o programa "teve tudo menos uma posição minimamente jornalística sobre a situação em Angola".

"O tom crítico de Pedro Rosa Mendes numa crónica, que é uma crónica de opinião, não terá agradado e, por isso mesmo, o jornalista terá sido dispensado. O que nós pedimos é ao Governo para esclarecer exatamente
o que aconteceu. Porque se é verdade que um jornalista foi afastado de uma crónica de opinião por ter tido uma opinião contrária à do Governo é um ato de censura inaceitável", sustentou.

A deputada do Bloco sublinhou que, "na passada legislatura, era o próprio PSD, hoje Governo, que falava da asfixia democrática para se referir a comportamentos que pressionavam os jornalistas ou penalizavam os
jornalistas por fazerem o seu trabalho ou por puderem expressar a sua opinião".

ERC quer ouvir "todos os intervenientes"


A Entidade Reguladora para a Comunicação Social "está a acompanhar" o caso do encerramento do programa e "encetará diligências para ouvir os intervenientes no caso".

"A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) está a acompanhar a situação e encetará diligências para ouvir diretamente todos os intervenientes no caso", indicou à Lusa fonte oficial do regulador.

Expresso