Crédito à habitação dispara 8,9%. É o maior aumento desde a crise de 2008

O stock do crédito à habitação superou os 108 mil milhões de euros em setembro pela primeira vez desde maio de 2013, no seguimento da maior expansão mensal homóloga desde agosto de 2008.

O mercado hipotecário vive um momento histórico que não se registava desde a crise financeira global de 2008. Os empréstimos para habitação cresceram 8,9% em setembro face ao período homólogo, acelerando pelo 21.º mês consecutivo, alcançando o maior ritmo de expansão homóloga mensal desde agosto de 2008, numa trajetória de aceleração observada desde janeiro de 2024.

Os dados divulgados esta segunda-feira pelo Banco de Portugal confirmam que o stock de empréstimos para habitação “aumentou 986 milhões de euros relativamente a agosto, totalizando 108,1 mil milhões de euros no final de setembro”. Este valor representa não apenas um novo máximo de mais de 17 anos (maio de 2013), mas também evidencia a confiança renovada das famílias em contrair dívida de longo prazo num contexto de descida das taxas de juro e apoios públicos aos jovens compradores.

A explicação para este fenómeno reside numa combinação de fatores que tornaram o acesso ao crédito mais favorável:

A Euribor, após atingir valores próximos dos 4,5% no início de 2024, iniciou uma trajetória descendente que aliviou as prestações mensais dos portugueses.
O Banco Central Europeu promoveu cortes de 200 pontos base da taxa de depósitos entre junho do ano passado e junho deste ano, levando a taxa de 4% para 2%, o nível mais baixo desde dezembro de 2022. Embora o BCE tenha interrompido o ciclo de descidas a partir de julho, mantendo as taxas inalteradas, a Euribor estabilizou em torno dos 2%, criando um ambiente de maior previsibilidade para quem procura financiamento.
As medidas governamentais de apoio aos jovens até aos 35 anos também desempenharam um papel crucial nesta expansão. A garantia pública, que permite ao Estado assegurar até 15% do valor da transação em imóveis até 450 mil euros, eliminou a necessidade de entrada inicial para muitos compradores. Combinada com a isenção do Imposto Municipal sobre Transações (IMT) e do imposto de selo na compra da primeira habitação, esta política criou um impulso significativo na procura, especialmente entre os mais jovens. Dados do Banco de Portugal revelam que, até agosto, os jovens representavam 59% do montante de novos contratos de crédito para aquisição de habitação, um aumento expressivo face aos 53% registados no mesmo período de 2024.
O impacto desta expansão não se limita ao crédito à habitação. O montante total de empréstimos a particulares cresceu 8,6% em setembro relativamente o mesmo mês do ano anterior, abrangendo também o crédito ao consumo e outros fins.

“O montante de empréstimos ao consumo e outros fins aumentou 229 milhões de euros relativamente a agosto, para 33,2 mil milhões de euros”, refere o Banco de Portugal, notando que “a taxa de variação anual foi de 7,6% (7,7% em agosto), resultante de um crescimento de 6,7% nos empréstimos para consumo e de 9,2% nos empréstimos para outros fins.

Esta dinâmica revela que as famílias estão a aumentar o seu nível de endividamento a um ritmo que não se observava há quase duas décadas, aproximando-se dos níveis de 2011, embora ainda distante do pico registado nesse ano.

Segundo o Banco de Portugal, “verificou-se que, no final de setembro, o montante total de crédito pessoal ascendia a 13,2 mil milhões de euros, correspondendo a um acréscimo de 77 milhões de euros em relação ao final de agosto”, e que em comparação com o mês homólogo, o crescimento foi de 7,1%.”

Quando ao crédito automóvel, o regulador revela que atingiu os 8,9 mil milhões de euros, mais 68 milhões de euros do que em agosto, e registou uma taxa de variação anual de 9,7%, igual à do mês anterior. “Os cartões de crédito somavam 3,3 mil milhões de euros, mais 18 milhões de euros do que no mês anterior, apresentando uma taxa de variação anual de 7,0% (7,7% em agosto)”, lê-se no comunicado do Banco de Portugal.

Fonte: Eco