Crime de ofensas corporais aumenta entre os mais jovens

Verónica é uma das 1237 crianças e jovens alvo de ofensas corporais, dentro ou fora da escola, no âmbito do ‘Programa Escola Segura’. A jovem passou a sofrer de ansiedade.

Tudo aconteceu entre um grupo de raparigas que frequentavam a mesma escola, em Lisboa. Verónica foi espancada com violência e as agressões filmadas, em novembro de 2023. “Armaram-lhe uma cilada. Uma amiga combinou com ela um encontro. Disse-lhe que não estava bem e que precisava de falar. Quando a minha irmã chegou ao local, a cerca de 100 metros da escola, já lá estavam umas quantas para a agredir”, conta ao DN Flávia Silva, irmã da adolescente agredida. “Foi agredida, foi filmada e ameaçaram-na que se ela contasse alguma coisa em casa que lhe podia voltar a acontecer o mesmo”.

Verónica, 15 anos, ficou paralisada pelo medo. “A minha irmã andou duas semanas em que só chorava e, em casa, não contou nada. Até que apercebi-me que ela até durante a noite chorava”, começa por explicar a irmã, Flávia, que tem a menor à sua guarda. “Inicialmente pensei que fosse coisas de miúdos, quezílias de namoro, que ela se tivesse chateado com algum namorado e não nos tivesse dito nada”, prossegue. “No entanto, o meu filho apercebeu-se que ela chorava constantemente, de dia e de noite. Tentei ter uma conversa com a minha irmã, para ver o que é que se passava. Ela não contava nada. Recorri à minha tia, que é uma pessoa mais velha e consegue aperceber-se melhor das situações. Foi quando a Verónica contou à tia o que é que tinha acontecido”.

Agredida e agressora tinham-se conhecido na escola. “A agressão aconteceu num parque infantil, que está escondido atrás de uns prédios”, revela Flávia.
Verónica, que foi retirada à mãe após monitorização da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Lisboa (CPCJ) por faltar às aulas, continuou com medo de ir à escola. De tal modo que a irmã, sua cuidadora, resolveu mudá-la de estabelecimento de ensino. Apesar de tudo, os problemas não acabaram. “Ela agora anda noutra escola mas vai passar os fins de semana a casa da nossa mãe. E essa rapariga que lhe bateu frequenta o bairro onde a nossa mãe mora, portanto elas cruzam-se”.

No dia 16 de fevereiro deste ano voltaram a acontecer incidentes que deixaram Verónica “em pânico”, como conta a irmã Flávia. “Nesse dia ela encontrou a agressora. A Verónica estava dentro do autocarro e a agressora estava do lado de fora. Só que, quando viu a minha irmã, começou aos gritos para dentro do autocarro, a chamar-lhe nomes. A Verónica ficou mesmo apavorada e, nesse dia, nem foi à escola. Apareceu em casa a chorar e, desde que isto começou que tem crises de ansiedade”. Flávia acrescenta que “sempre que a vêem, ameaçam-na”.

O medo toma também conta da família mais próxima. “Nem sempre conseguimos estar ao pé da Verónica. Por exemplo, quando esta situação do autocarro aconteceu, ela ia da casa da mãe para a escola. E estas coisas acontecem sempre que ela está sozinha. Aliás, antes da agressão de novembro, que foi filmada e da qual foi feita queixa, a minha irmã já tinha sido agredida, já lhe tinham batido”, aflige-se a irmã mais velha, de 29 anos, e cuidadora da menor.

Na origem das agressões está “um diz que disse: a agressora diz que a minha irmã falou umas coisas, a minha irmã nega. Sei que elas antes eram amigas, porque a minha irmã andava na mesma escola que ela”. Em causa estão crimes praticados por menores, dentro ou, no caso, nas imediações da escola.

Segundo o último relatório do Programa Escola Segura, que se dedica a policiar os estabelecimentos de ensino básicos e secundários, as ofensas corporais foram um dos crimes a subir. Se em 2022 tinham acontecido 1172 agressões, no ano passado foram 1237. Verónica faz parte desta estatística, que incluiu outros crimes, como injúrias e ameaças.

Fonte: Diário de Notícias
Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens