Marcelo aconselha forças de segurança a não perderem apoio dos portugueses

Chefe de Estado mostrou-se convicto de que o próximo Governo, seja qual for, assumirá a reivindicação das forças de segurança "como prioritária" procurando "corresponder àquilo que é uma legítima aspiração e a correção ou a compensação de uma desigualdade que se introduziu".

O Presidente da República aconselhou esta quarta-feira as forças de segurança a não perderem o apoio dos portugueses e considerou que a sua causa obteve já o apoio generalizado dos partidos.

"É importante que, em cada passo que se dá, quem permanentemente está a prosseguir uma luta que é justa o faça tendo presente o apoio que não pode deixar de ter dos portugueses", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em resposta aos jornalistas, na Cordoaria Nacional, em Lisboa.

Segundo o chefe de Estado, "o objetivo principal" da plataforma que reivindica para a PSP e GNR um regime compensatório equiparado ao da PJ "tem sido atingido" e esta matéria será uma prioridade para o próximo Governo.

Na sua opinião, isso aconteceu porque o processo reivindicativo foi "conduzido com uma preocupação de respeito pela legalidade e de aparecer como dando confiança e segurança aos portugueses", o que deve manter-se.

"Em cada momento é preciso que as forças de segurança vão, naquilo que é a sua contestação, nas suas ações de luta, encontrando formas que correspondam a este sentimento de segurança dos portugueses", aconselhou.

O Presidente da República referiu que "falou-se a certa altura da ideia de que poderia estar em causa a realização de eleições", por falta de agentes.

"Imediatamente isso foi esclarecido, e tinha de ser esclarecido, porque não era bom para a as forças de segurança dar uma sensação de insegurança. Não há maior insegurança do que dizer que pode não haver eleições, que são o fusível de segurança da democracia", acrescentou.

Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa discordou que os protestos das forças de segurança sejam apresentados "como um braço de ferro entre grupos reivindicativos e o Governo" em gestão, contrapondo que "o que interessa verdadeiramente é olhar para os que vão ser protagonistas do futuro" após as legislativas.

O chefe de Estado, que não fazia declarações públicas desde 26 de janeiro, decidiu intervir para "de uma forma muito racional fazer o ponto da situação" sobre este assunto, pedindo às forças de segurança que se foquem no futuro pós-eleições.

"O que estamos ainda a viver é um período transitório com um Governo de gestão que está a terminar a sua atuação. E agora o que interessa é olhar para os que poderão ser primeiros-ministros no futuro, ministros no futuro, integrantes de soluções políticas governativas ou de apoio governativo", reforçou.

No seu entender, este "é um grande desafio para o próximo Governo" e por parte das forças políticas "houve um acordo" em termos gerais no sentido de "admitirem que [PSP e GNR] têm razão, é legítimo o seu protesto" e que "é urgente resolver esse problema".

Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se convicto de que o próximo Governo, seja qual for, assumirá esta matéria "como prioritária" procurando "corresponder àquilo que é uma legítima aspiração e a correção ou a compensação de uma desigualdade que se introduziu".

"Eu diria que o objetivo principal da plataforma, que reúne muitas associações e sindicatos, tem sido atingido, que é sensibilizar os portugueses, ter o apoio dos portugueses, sensibilizar os partidos políticos e ter a aceitação dos seus pontos de vista em geral e como compromisso para futuro Governo da parte de todos esses partidos. Isso parece-me que é um dado importante", realçou.

Porém, repetiu que há processos reivindicativos em que com o tempo "o apoio perde-se", pela "forma de luta escolhida", que provoca cansaço ou incompreensão. "É um ponto importante a ter em consideração", advertiu.

Perante os jornalistas, o Presidente da República não condenou as declarações públicas feitas pelo presidente do Sindicato Nacional de Política (Sinapol), Armando Ferreira, sobre eventuais perturbações do ato eleitoral de 10 de março, preferindo saudar que isso "tivesse sido esclarecido" posteriormente.

"Eu não tive dúvidas de que nunca ninguém poria em causa as eleições", afirmou. "As eleições foram uma das grandes lutas dos democratas, portanto, não pode haver nenhum processo reivindicativo, não pode haver nenhum problema, mesmo muito justo, que possa levantar dúvidas sobre a realização de eleições", frisou.

Fonte: Diário de Notícias
Foto: Oleg PETRASYUK / AFP