No pós-pandemia, são cada vez mais novos os que embarcam na criminalidade juvenil

Comando Metropolitano de Lisboa da PSP juntou responsáveis de várias áreas num seminário para debater os desafios da delinquência juvenil.

A delinquência juvenil tem vindo a acentuar-se e de uma forma preocupante, resumiu Cristina Soeiro no Seminário Delinquência Juvenil – Um Desafio para a Segurança, promovido pelo Comando Metropolitano de Lisboa da Polícia de Segurança Pública (PSP) nesta segunda-feira na Universidade Lusófona em Lisboa.

Antes e depois da psicóloga forense e docente do Instituto de Polícia Judiciária e Ciências Criminais o referir, diversos oradores traçaram quadro semelhante de um aumento da frequência dos actos, em idades cada vez mais precoces, e a uma cada vez maior gravidade dos delitos, como referiu João Oliveira que dirige a Directoria de Lisboa e Vale do Tejo da Polícia Judiciária. “Há um contacto cada vez mais precoce dos jovens com a justiça” e em situações “mais graves”, notou também o procurador do Gabinete da Família, da Criança e do Jovem da Procuradoria-Geral da República, Pedro Faria, para quem isto “significa que nalgum lado está a falhar a intervenção tutelar educativa”.

Antes de Pedro Faria, Margarida Macedo, directora dos Serviços de Justiça Juvenil na Direcção-Geral de Reinserção Social e Serviços Prisionais, chamara a atenção para “a generalização do uso de facas nos actos cometidos por jovens”, bem como para “o aumento da gravidade” e a associações a problemas de saúde mental. “Há uma banalização do uso da faca” como elemento a contribuir para uma certa imagem que o jovem projecta, e que pode ter “consequências graves”.

A responsável fala mesmo em “massificação do uso das facas” como um fenómeno “relativamente recente em Portugal” embora habitual noutros países.

“Os actos são cada vez mais violentos. E cada vez mais cedo e cada vez mais raparigas vão por estes caminhos desviantes”, completou o subintendente Nelson Ribeiro, comandante da 4.ª Divisão da PSP em Lisboa. “Há miúdos de 12 e 13 anos envolvidos no tráfico [de droga]. Vêem os de 15 e 16 anos a ostentar um nível de vida muito elevado” e enveredam por esse caminho.

É este o quadro verificado nos anos pós-pandemia, mas não diz respeito exclusivamente a um aumento relativamente ao que foram os dois anos de confinamento em que houve uma acalmia. Comparando com 2019, há um agravamento generalizado destes fenómenos.

Entre os jovens com comportamentos desviantes, “há ausência de apoio familiar ao mesmo tempo que há um fascínio pela obtenção de ganhos rápidos”, disse Cristina Soeiro, que se interroga sobre o que se pode fazer, antes de ela própria responder: “A resposta tem que ser uma resposta centrada nas comunidades onde estes jovens estão integrados.”

E não o deve ser só quando chegam à adolescência. “Para conseguirmos intervir na delinquência temos que começar na escola primária”, disse frente a uma plateia de estudantes de Criminologia e elementos da PSP de várias patentes, bem como técnicos cuja actividade se centra nas crianças e nos jovens.

“Não estamos só a falar de pais disfuncionais, são famílias que precisam de trabalhar muito para garantir um salário mínimo que dê para pagar as contas. As crianças ficam sem supervisão. E um dos factores que melhor explicam a adesão a um gangue é a ausência de supervisão parental.”

Fonte: Público
Foto: Adriano Miranda