Insolvências caem 12%, mas contexto internacional “impõe prudência”

Apesar das insolvências terem caído 11,5% até junho, as empresas portuguesas continuam vulneráveis face ao contexto internacional.

No primeiro semestre do ano, as insolvências caíram quase 12%, o que mostra a resiliência do tecido empresarial perante um contexto internacional adverso. No entanto, a continuidade desta trajetória dependerá da capacidade das empresas se adaptarem a um enquadramento cada vez mais complexo e exigente.

“É essencial reconhecer o mérito do desempenho empresarial português na primeira metade de 2025 — mas também não ignorar a sua potencial vulnerabilidade, sendo que apesar das leituras financeiramente positivas, o contexto internacional impõe prudência”, diz ao ECO fonte oficial da Allianz Trade em Portugal.

De janeiro a junho, 1.082 empresas entraram em insolvência em Portugal, o que representa uma quebra de 11,5% face ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados da Allianz Trade em Portugal.

Até ao sexto mês do ano, e de forma semelhante a 2024, os setores de serviços, construção, retalho e têxteis apresentaram os valores mais elevados de insolvências registadas, representando 65,1% do total, ainda que com variações homólogas negativas de -8,3%, -6,1%, -8,5% e -41,3%, respetivamente.

Já o setor dos transportes inverteu a tendência, com um agravamento de +25,5%, “traduzindo dificuldades operacionais e aumento da pressão sobre operadores logísticos e de distribuição”, calcula a acionista da companhia de seguros de crédito COSEC.

“Os números destes primeiros seis meses do ano são encorajadores. No entanto, para Portugal continuar nesta linha, as empresas precisam de continuar a ter uma forte capacidade de rigor estratégico, resiliência e agilidade, uma vez que o contexto internacional é desafiante”, acrescenta Nadine Accaoui, CEO da Allianz Trade em Portugal.

A Allianz Trade em Portugal aponta as “tensões comerciais, os reajustes nas políticas monetárias, a instabilidade regulatória e os desenvolvimentos geopolíticos” como os principais fatores que moldam permanentemente o ambiente em que as empresas operam.

O presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP) alerta que apesar do bom desempenho empresarial, a “conjuntura internacional mantém-se instável, como resultado das tensões geopolíticas, quer ao nível militar quer ao nível comercial”. No dia 27 de julho, a União Europeia e os EUA chegaram a acordo para tarifas de 15%. Os empresários portugueses aplaudiram este “cessar-fogo económico”, embora considerem que fica longe de ser o desejável.

A Allianz Trade em Portugal alerta que a “complexidade do cenário global, marcada por elevada incerteza, desde o regresso de políticas protecionistas nos EUA até à crescente instabilidade geopolítica, continua a prejudicar diretamente as cadeias de valor internacionais, fluxos comerciais e decisões de investimento”.

Face a esta instabilidade, Luís Miguel Ribeiro enfatiza que “as empresas estão a sentir esses impactos, embora os efeitos possam manifestar-se de forma diferenciada – consoante o setor, maturidade da empresa ou exposição por tipo de mercado – e com algum desfasamento temporal”.

Porto foi o distrito com mais empresas insolventes até junho
Do ponto de vista regional, os distritos do Porto, Lisboa, Braga e Aveiro continuam a concentrar a maioria das ocorrências, mas com variações homólogas maioritariamente negativas, de -11,8%, -0,9%, -16,0% e -17,1%, respetivamente.

Dados da Allianz Trade mostram que o Porto foi o distrito com mais empresas insolventes até junho, com 292 empresas a entraram em insolvência até ao sexto mês do ano, embora represente uma descida de 11,8% quando comparado com o período homólogo do ano anterior.

Já no distrito de Lisboa, 222 empresas entraram em insolvência, o que significa uma queda muito ligeira de 0,9% relativamente ao período homólogo. O terceiro distrito com mais empresas insolventes é o de Braga, que regista um acumulado de 142 insolvências, o que corresponde a uma descida de 16% face ao primeiro semestre de 2024.

Em sentido inverso, alguns distritos com menor dimensão, revelam aumentos, como Bragança (+37,5%) e Viana do Castelo (+4,5%).

Embora os indicadores sejam positivos e se tenha assistido neste primeiro semestre a um recuo das insolvências, o presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), José Eduardo Carvalho, diz ao ECO que “mais de metades dos setores registaram um crescimento nas insolvências em 2023 e 2024, e com um peso especial do setor das Indústrias (em particular o subsetor têxtil e moda, concentrado na região norte)”.

O líder da AEP faz questão de reforçar que em relação à criação líquida de empresas, a evolução também é positiva, tendo o rácio “nascimentos/encerramentos” aumentado de 4,2 no primeiro semestre de 2024 para 5,6 no primeiro semestre de 2025, o maior valor da série (com dados desde 2014), com base em dados do barómetro da Informa DB.

“A par do espírito empreendedor, estes resultados evidenciam também a resiliência do tecido empresarial nacional perante uma conjuntura externa desfavorável”, constata Luís Miguel Ribeiro.

Os dados da Informa D&B mostram que entre janeiro e julho deste ano foram criadas 32.422 empresas, o que representa uma subida ligeira de 0,8% face ao período homólogo. A análise revela que o imobiliário (+22%) e a construção (+11%) foram os setores que lideraram a criação de empresas, num total de 697 e 410 novos negócios, respetivamente.

Empresários pedem intervenção do Governo perante contexto adverso
Perante os impactos do atual contexto fortemente adverso, o líder da Associação Empresarial de Portugal considera que o “Governo deve ter uma intervenção mais ativa no apoio as empresas“, enumerando que é “fundamental uma redobrada atenção das políticas públicas no apoio à economia, designadamente à internacionalização das empresas, sobretudo à diversificação dos seus mercados, essencial para minimizar riscos”.

Luís Miguel Ribeiro aponta ainda que “são necessárias medidas mais estruturais de apoio às empresas, nomeadamente o apoio à reindustrialização como estratégia para aumentar o valor acrescentado, o incentivo ao redimensionamento empresarial e a construção de um mercado de trabalho mais ágil”.

Por fim, recorda que “não deve ser esquecida a urgência da aceleração da execução dos fundos europeus, a necessidade de um papel “mais efetivo” do Banco Português de Fomento junto das empresas, bem como a total desburocratização da relação do Estado com as empresas.

Fonte: Eco