Portugueses entregaram 19 casas por dia aos bancos no último ano

Dados revelam um aumento de 18% das casas entregues pelas famílias e imobiliárias em 2011.

Os bancos penhoraram 19 casas por dia no ano passado por falta de pagamento das famílias e promotoras imobiliárias. Os dados são da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP) e indicam que, em 2011, foram entregues 6.900 imóveis em dação em pagamento, o que representa um aumento de quase 18% face aos 5.900 entregues em 2010.

Os dados referem-se a casas e terrenos entregues por famílias e promotoras imobiliárias que deixaram de cumprir as suas obrigações com a banca e são a concretização do aumento do nível de incumprimento. De acordo com os valores do Banco de Portugal até Novembro de 2011, o incumprimento das famílias situava-se em 1,89%, um máximo histórico, com o crédito malparado a atingir 2,15 mil milhões de euros.

A penhora de casas atingiu sobretudo o Porto, Lisboa e Setúbal - já a região da Guarda foi a menos afectada. Em Dezembro atingiu-se um pico histórico, sendo o pior mês dos últimos dois anos, com 1.155 casas entregues, contra 606 em Novembro.

Segundo o gabinete de estudos da APEMIP isto deve-se a vários factores. A deterioração do cenário macroeconómico de crise é o factor mais óbvio. Mas há outros, como as dinâmicas dos bancos, a rapidez com que fazem as cobranças e as penhoras no final do ano e ainda o facto de "muitas famílias entregarem as suas casas no último mês para não terem de pagar o Imposto Municipal sobre Imóveis [IMI] relativo ao ano seguinte, sobre um bem que já não possuem", explica Luís Lima, presidente da associação.

As entregas feitas pelos promotores imobiliários têm também um peso importante no total de penhoras feitas pelos credores, "reflexo do arrefecimento do mercado imobiliário". No ano passado atingiu 29,9% no total das penhoras feitas. Os municípios de Alcochete, Loulé, Ponta Delgada e Vila do Conde foram os mais atingidos, onde esta realidade representou mais de metade dos imóveis entregues em dação em pagamento. Neste caso, o incumprimento tem também atingido níveis históricos, chegando já a 11,7%, de acordo com dados do Banco de Portugal.

Dezembro foi o melhor mês de venda de casas em 2011

A venda de casas desceu 7,2% no ano passado, com 194 mil casas transaccionadas, mas o ano acabou por não ser tão negro como inicialmente previsto. Isto porque o mês de Dezembro foi muito positivo, com 19 mil imóveis vendidos.

Para o presidente da APEMIP, Luís Lima, esta tendência "foi uma surpresa", apesar de o último mês do ano ser normalmente mais forte. O responsável explica que "as famílias tentaram antecipar as mudanças no IMI e nas deduções das despesas com a casa em sede de IRS". A isenção de IMI, por exemplo, foi muito limitada neste Orçamento do Estado, reduzindo-se para três anos.

O gabinete de estudos da associação explicou ainda, em esclarecimento adicionais, que Dezembro é um mês de expansão no crédito concedido, já que "as imobiliárias reforçam as vendas para não pagarem IMI do ano seguinte" , havendo um aumento das vendas. Além disso, "houve muitos pequenos investidores que viram na nova lei do arrendamento - que facilita os despejos em caso de incumprimento por parte dos inquilinos - uma segurança e que decidiram investir ainda em 2011".

Diário Económico